Assim, eu me demoro p'la manhã...
em nostalgias, e camisa de dormir.
Na madrugada fresca, uma maçã
trincando, ouvindo abelhas a zunir.
Olhando p'la janela a passarada,
vai e vem de cores, pressas, desatinos...
Saudosa, lembro a época passada
dos filhos homens, ainda pequeninos.
O sol rompe a neblina, esplendoroso.
Recorda mais um dia no começo.
Voando, um melro transporta, carinhoso,
pauzinhos para o ninho, e me enterneço.
Formigas, num carreiro apressado.
Osga chapada, no muro já bem quente.
Enquanto um bando de pombos, no telhado,
alisa as penas. Ao longe passa gente.
Recolho um vestido no varal
pendurado, indolente, a balançar.
Céleres correm as horas, pra meu mal;
nada escrevi, distraída a observar.
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28/07/2003
Laura B. Martins
Soc. Port. Autores n.º 20958