
Não venho versejar em choradinho,
nem arrancar-vos lágrimas amargas.
Eu venho, sim, com todo o meu carinho
mostrar essa mãe negra, p'lo caminho
levando, sorridente, as suas cargas.
Descalça, como foi habituada,
os cachos de bananas à cabeça.
Tão lindo, uma criança suportada
às costas da mãe negra, enrolada!...
Pano e vestido... talvez da mesma peça?!
Será, pensei, um luxo africanista?
Será uma vaidade de mulher?
Mas, não. Apenas obra idealista
desta mulher e mãe, que assim conquista
a moda, na costura; seu mister.
Com um sorriso aberto, dentes brancos...
cabelo negro encrespado, sem idade...
segue a deusa do ébano. Nos flancos,
carrega um príncipe negro, aos solavancos,
na passarela da sensualidade.
-----------------------------
30/11/2003
Laura B. Martins
Soc. Port. Autores n.º 20958